quinta-feira , 28 de março de 2024
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O enigma dos revisores muito produtivos

Um artigo divulgado em fevereiro na revista Research Integrity and Peer Review levantou características dos revisores altamente prolíficos, pesquisadores que avaliaram durante o ano de 2018 mais de 100 trabalhos científicos de seu campo de conhecimento, emitindo pareceres para revistas em que sugerem aperfeiçoamentos nos manuscritos e recomendam ou não a publicação deles. Coordenado pelo epidemiologista David Moher, especialista em integridade científica da Universidade de Ottawa, no Canadá, o estudo baseou-se em dados do site Publons, vinculado à empresa Clarivate Analytics, no qual pesquisadores podem registrar sua atuação como revisor de artigos, monitorar seus indicadores de desempenho nessas atividades e receber reconhecimento público por elas – a Publons divulga os perfis dos revisores mais produtivos.

Os revisores altamente prolíficos têm produção acadêmica notável – eles publicaram um número maior de artigos e receberam mais citações do que colegas de um grupo de controle que avaliaram de 1 a 12 manuscritos em 2018. Noventa e dois por cento deles eram homens, ante uma proporção masculina de 70% do grupo de controle. A origem geográfica também apresentava diferenças. Os que revisaram mais de 100 artigos em um ano estavam predominantemente na Europa (37%) e na Ásia (33%). Já os outros atuavam na Europa (41%) e na América do Norte (26%).

O estudo não se debruçou sobre as motivações que levam os revisores a se empenhar com tanto afinco a uma atividade em geral voluntária, embora, em algumas instituições, as atividades de avaliação por pares contem pontos na progressão de carreira. Moher e seus colaboradores, porém, questionaram a qualidade da contribuição dos avaliadores. Em ambos os grupos, os comentários sobre cada manuscrito ocuparam, em média, dois terços de uma página, com uma tendência, entre os pesquisadores altamente produtivos, de utilizar menos palavras do que os demais.

De acordo com o canadense, os comentários parecem ser curtos demais para uma avaliação construtiva dos achados de um manuscrito, em que a validade da pesquisa é adequadamente discutida e sugestões de aperfeiçoamento, com inclusão de evidências e novas referências, são fornecidas. Segundo ele, há a hipótese de que alguns revisores muito produtivos não estejam propriamente interessados em ser úteis à comunidade de pesquisa, mas busquem, na verdade, exercer influência sobre os temas publicados em seu campo do conhecimento, rejeitando ou recomendando manuscritos sobre determinados assuntos, ao mesmo tempo que dão escasso feedback aos autores. Essa possibilidade, eticamente condenável, precisaria ser investigada em novos trabalhos, diz o estudo.

 

Fonte: Pesquisa FAPESP

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