quarta-feira , 24 de abril de 2024
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Por que falar sobre competências do editor-chefe?

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Ilda Fontes

 

A literatura sobre gestão de periódicos científicos tem demonstrado que ser um pesquisador ou uma pesquisadora com liderança em sua área de pesquisa e com reputação ilibada é condição sine qua non para ser editor-chefe. Mas será que ela é suficiente para garantir a boa gestão do periódico científico?

É sabido por todos na academia e no mundo da editoria científica que o editor-chefe é um cargo ocupado temporariamente, o que se apresenta como uma oportunidade diferenciada para contribuição do pesquisador para o desenvolvimento da ciência em sua área de atuação, indo além de sua produção acadêmica pessoal.

Mas se esse modelo está definido e consolidado, por que falar sobre as competências do editor-chefe?

Primeiramente, por que falamos sobre desenvolvimento de competências em todos os âmbitos em que atuamos. Portanto, por que não falar sobre as competências do editor-chefe? Apesar de suas intensas atividades no processo de certificação científica, com forte interação com autores, editores, revisores e leitores, na construção de uma comunidade para fomento e desenvolvimento de pesquisas no campo de estudo em que se insere o periódico, as atuações do editor-chefe vão além desse processo, na busca de garantir o reconhecimento crescente do periódico junto à comunidade em que se insere.

Apesar de os periódicos do Brasil serem publicados majoritariamente no modelo de acesso aberto, não terem fins lucrativos e serem, em geral, subsidiados pela instituição publicadora, não se pode perder de vista que devem ser tratados como um negócio, mesmo que sem fins lucrativos. Neste sentido, as revistas precisam de uma certa organização para serem operacionalizadas de modo eficiente, garantindo, de modo contínuo e crescente, sua sustentabilidade (tanto em termos econômicos, quanto em termos de continuidade editorial com qualidade) e seu diferencial de contribuição acadêmico-científica e de desenvolvimento da ciência sem fronteiras.

Portanto, e em segundo lugar, mesmo que a revista conte com um editor técnico (ou executivo) responsável pela gestão e uma equipe administrativa para as atividades do dia a dia, é importante que o(a) editor(a)-chefe invista no desenvolvimento de suas habilidades para as tarefas de gestão de negócio em editoria científica.

Em pesquisa que desenvolvi em 2020 com 29 editores-chefes de periódicos da área de Administração, envolvendo revistas do Brasil e do exterior, os próprios editores sinalizaram a necessidade de desenvolvimento das seguintes competências a fim de garantir sucesso para si e para o periódico em sua gestão como editor(a)-chefe de modo alinhado às tendências em editoria científica:

  • manter sua visão abrangente do campo de estudo em que atua, ao mesmo tempo em que busque cada vez mais profundidade de conhecimento da área;
  • fortalecer habilidades de liderança, com foco em atrair e influenciar pessoas para fortalecer a comunidade em que o periódico se insere;
  • familiarizar-se com as novas formas de comunicação da ciência e explorá-las na disseminação do conteúdo editorial e fortalecimento do periódico;
  • familiarizar-se com as novas formas de tecnologia e explorá-las para ganhar eficiência operacional e de gestão do periódico;
  • aprender a (re)aprender continuamente, com flexibilidade e adaptabilidade para inovações e mudanças constantes;
  • compreender os modelos de negócio dos periódicos, suas inovações e tendências, e ter consciência do impacto de suas decisões na eficiência de sua revista.

Essas competências nunca foram tão necessárias como no momento tão complexo quanto o que vivemos impactado pelo crescente desenvolvimento da internet e das tecnologias, o fortalecimento da ciência aberta, às questões éticas, de integridade e boas práticas, somados às mudanças demográficas, sociais, econômicas e o ambiente pandêmico. Além disso, a entrada de grandes editoras, aliada à globalização, proporciona um acirramento no mercado e busca de profissionalização da equipe editorial e dos processos de gestão das revistas.

Nesse sentido, o(a) editor(a)-chefe, de modo semelhante ao que ocorre com um gestor de um determinado negócio, mesmo que para um cargo temporário, deve buscar um conhecimento específico em editoria científica, que lhe proporcionará facilidades nas tomadas de decisões dos desafios vindouros, que certamente não são poucos diante do atual contexto de complexidade, e resultados assertivos no desempenho do periódico.

A ABEC Brasil já iniciou a capacitação estruturada para editores de periódicos, por meio do Programa ABEC Educação. Esta é uma relevante alternativa para atualização e treinamento, preenchendo uma lacuna importante na capacitação estruturada e na profissionalização de editores de periódicos. Fornecedores diversos de serviços em editoria científica, assim como conselhos internacionais para editores científicos também têm se empenhado na capacitação de profissionais em administração por meio de seus congressos anuais, workshops etc, de modo similar aos eventos da ABEC Brasil. Vale a pena buscar capacitação e atualização junto a essas instituições.

 

Ilda Fontes é 1ª Tesoureira da ABEC Brasil (2020-2023); +20 anos de experiência em gestão de periódicos acadêmicos/FGV EAESP; Mestra em Gestão para Competitividade/FGV EAESP; Certificada em Editoria Científica ProCPC (CSE& ABEC).

 

Dicas de leitura

Fontes, I.; Menegon, L. F. (2022). The competences of the editor-in-chief of a scientific journal: gaps and trends. Revista de Gestão, 29(2), 199-213, doi:  https://doi.org/10.1108/REGE-04-2021-0062

Sharma, P. (2016). The job of a journal editor. Family Business Review, 29(3), 247–255, doi: https://doi.org/10.1177/0894486516655901

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