sábado , 20 de abril de 2024
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Um em cada cinco artigos biomédicos pode conter dados falsificados, aponta estudo

Um em cada cinco artigos publicados em periódicos especializados pode conter dados falsificados produzidos por “fábricas” irregulares de artigos acadêmicos que são pagas para produzir dados científicos.

A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores alemães que empregaram técnicas novas para flagrar “papers” (artigos científicos) problemáticos.

O estudo vem somar-se às evidências crescentes de que o mundo das publicações acadêmicas enfrenta um aumento prejudicial de pesquisas falsificadas vendidas por “fábricas de papers” a pesquisadores desesperados por publicar trabalhos para impulsionar sua carreira. E ele reforça evidências recentes de que a maior parte das pesquisas falsificadas vem da China.

Encabeçada pelo professor Bernhard Sabel, diretor do Instituto de Psicologia Médica da Universidade Otto von Guericke em Magdeburgo, a equipe descobriu que o número de trabalhos fraudados aumentou fortemente nos últimos anos. A pressão para publicar papers tem sido especialmente intensa na China, segundo a equipe. Alguns hospitais e órgãos de saúde chineses exigem que cada médico seja o primeiro autor de um número determinado de artigos científicos.

As revisões de evidências clínicas perdem credibilidade quando são incluídos estudos fraudulentos, e isso prejudica a confiança pública na ciência e medicina. O setor científico chinês também sofre os efeitos da percepção ocidental de que os pesquisadores chineses são displicentes em relação à integridade dos trabalhos publicados.

“A publicação de artigos científicos fraudados talvez seja o maior golpe científico de todos os tempos. É um desperdício de recursos financeiros, atrasa o progresso da medicina e pode colocar vidas em risco”, disse Sabel.

A maioria do grupo crescente de investigadores independentes que rastreiam fraudes científicas analisam o teor de papers para procurar, por exemplo, imagens manipuladas e sequências genéticas pouco plausíveis. E algumas publicações acadêmicas estão começando a adotar ferramentas mais sofisticadas para detectar fraudes.

Os pesquisadores alemães seguiram uma abordagem diferente, identificando “bandeiras vermelhas”, ou seja, indícios simples que não requerem um exame detalhado do artigo científico em si –por exemplo, o uso de endereços de email particulares em lugar de institucionais, a afiliação a um hospital em vez de a uma universidade e a ausência de coautores internacionais. Esses indícios eram validados com uma comparação de uma amostra de fraudes conhecidas com papers vistos como genuínos.

O artigo, que foi publicado no MedRvix mas ainda não passou por uma revisão de pares, destaca que a presença de uma “bandeira vermelha” não constitui indício definitivo de fraude, porque ela pode identificar falsamente um número importante de papers genuínos.

A parcela de artigos do campo da biomedicina contendo bandeiras vermelhas subiu de 16% em 2010 para 28% em 2020, tendo aumentado muito mais no campo da neurociência que da medicina clínica. Levando em conta os papers apontados como fraudados que são na realidade genuínos, Sabel estimou que a proporção real seja hoje de cerca de 20%, equivalente a 300 mil artigos científicos por ano.

Citando a “produção maciça” de pesquisas fraudadas por fábricas de papers, os pesquisadores também investigaram as técnicas empregadas por um setor cuja receita anual foi estimada em entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. “Esses papers geralmente parecem usar geração de textos e dados feita com IA sofisticada, manipulação estatística, tecnologias de fabricação e pirataria de imagens e texto”, eles disseram.

O professor Gerd Gigerenzer, da Universidade de Potsdam, psicólogo e coautor do paper, disse: “Vai ser uma corrida entre as fábricas de papers e aqueles entre nós que tentamos detectá-los, com ambos os lados utilizando IA”.

Mas ele disse que a solução real seria reduzir a pressão para publicar, especialmente na China. Outros, sugeriu Gigerenzer, poderiam seguir o exemplo da Fundação Alemã de Pesquisas, que orienta os candidatos a financiamento a limitarem a cinco o número de artigos de sua própria autoria citados.

Jennifer Byrne, professora de oncologia na Universidade de Nova Gales do Sul e investigadora renomada que não participou do projeto, comentou: “É um estudo importante, porque até agora foram publicados muito poucos estudos nessa escala. Ele aponta para um problema enorme”.

*com informações da FOLHA

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