Com o auditório “Altino Antunes”, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), na Capital, completamente lotado aconteceu hoje o primeiro dia de atividades do XXV Curso de Editoração Científica da ABEC. Durante todo o dia, mais de 300 participantes, entre eles editores e pesquisadores, assistiram a palestras sobre diferentes temas relacionados à divulgação científica.
A mesa de abertura contou com a presença de toda a Diretoria da ABEC e quem fez uso da palavra foi o presidente da entidade, o professor Rui Seabra Ferreira Júnior. O dirigente aproveitou para divulgar o ProCPC – Programa para Capacitação em Publicação Científica , um programa híbrido criado em parceria com o Council of Science Editors/USA, por meio do qual a maior parte dos requisitos para certificação dos editores poderão ser cumpridos no Brasil durante os eventos da ABEC. O programa se destina a todos aqueles que atuam em publicação científica e que estejam interessados em complementar sua formação para desempenhar suas funções editoriais de forma segura e atualizada. “A partir de agora, esse curso, que acontece durante o XXV CEC, será oferecido duas vezes por ano. Temos o prazer de anunciar que duas alunas já foram certificadas pelo ProCPC”, anunciou Seabra, acrescentando que, em breve, estará disponível no site da ABEC a relação de todas as revistas brasileiras e seu respectivo fator de impacto.
Comitês Editoriais de Alta Performance – Quem abriu a programação do CEC 2017 foi o professor Luiz Marins, da Fundação LAMF, que falou sobre “Como transformar o Comitê Editorial de seu periódico em um time de alta performance”. Segundo o palestrante, que também é professor de antropologia, o que mais motiva uma pessoa é, principalmente, aquilo que o dinheiro não pode comprar. “É preciso que os membros de um comitê editorial, além do prestigio de fazer parte do grupo, tenham a oportunidade de crescimento. É isso que atrairá profissionais voluntários”, destacou. “Mas, mesmo voluntariamente, é preciso cumprir a palavra, cumprir prazos. É falta de civilidade, de respeito, como voluntário, se dispor a fazer algo e depois não cumprir. Se a pessoa é muito ocupada, precisa ter a coragem de dizer que não está disponível”, acrescentou.
Rede Social Acadêmica – Em seguida, foi a vez da convidada Juliana Akie Takahashi, que apresentou detalhes sobre o funcionamento e as vantagens da ferramenta Mendeley: gerenciador de referências e rede social acadêmica. A ferramenta, que é compatível com os sistemas operacionais Windows, MAC e Linux é gratuita, mas pode haver a necessidade de pagamento de anuidade dependendo da necessidade de armazenamento de dados, no caso de ser utilizada por empresas. No entanto, para pesquisadores, ainda é gratuita.
Entre suas funcionalidades, pode ser usada para gestão de referências e permite uma importante interface com plataformas usadas como base de dados, como é o caso do scopus. “Para utilizar o Mendeley, o pesquisador precisa ter seus dados cadastrados em uma base de dados e criar um perfil na rede social. A partir daí é possível fazer buscas específicas e genéricas utilizando palavras-chave, criar alertas sobre temas de interesse e também armazenar referências em sua área de pesquisa. Outra vantagem é a criação de grupos, que podem ser públicos, privados; com membros convidados (no qual há a presença de um administrador) para autorizar ou não a entrada de novos participantes”, colocou Juliana.
O papel do editor-chefe – O professor Antonio Pithon Cyrino, da Unesp, ficou com a incumbência de falar sobre “O papel do editor-chefe”. Ele colocou como principais papéis do editor: a coordenação do processo de avaliação do mérito científico, coordenação do processo editorial e coordenação do processo de avaliação, inovação e desenvolvimento, destacando seu papel pedagógico em relação aos autores. “Nós, editores-chefes também temos a responsabilidade de inibir eventuais desvios éticos, seja por meio de ações educativas ou punitivas”, destacou Cyrino.
Comitê editorial – As últimas três palestras do primeiro dia do XXV Curso de Editoração Científica da ABEC, ficaram sob a responsabilidade de Maria Helena Marziale, da USP, que abordou o tema: “Composição do comitê editorial”. Ela explicou sobre as atribuições de cada membro, falou da importância de se respeitar o regulamento das revistas e também ponderou sobre quais os critérios utilizados na avaliação dos artigos. Maria Helena ainda salientou como pontos a serem considerados: a importância de se cumprir prazos; de selecionar bem os revisores; selecionar temas de interesse da comunidade e do público–alvo do periódico; publicar estudos que deram certo e os que não tiveram sucesso também; usar descritores adequados e trabalhar em sintonia com o Comitê de Ética.
Revisores – José Eurico Possebon Cyrino, também da USP, falou sobre “Como obter revisões construtivas e eficazes”. Para ele, o trabalho começa com a instalação de uma comissão editorial de reconhecida competência científica. O palestrante ainda comentou sobre a importância de sintonizar a cabeça dos revisores para adoção do inglês como língua oficial e de expandir os bancos de revisores para incluir profissionais do exterior. “A melhoria da qualidade das publicações científicas está diretamente ligada à atuação dos revisores, por isso, eles precisam conhecer bem as peculiaridades de cada revista”, colocou. “Os poucos revisores disponíveis precisam ser bem tratados, instruídos e educados. Conseguir bons revisores tem sido bastante difícil”, emendou.
José Eurico observou que um desafio que se coloca atualmente é envolver os revisores com os periódicos e fazê-los entender que o editor de hoje e o revisor de amanhã. “O avanço da ciência depende da boa reputação dos periódicos e de informações confiáveis, por isso a revisão precisa ser eficaz e efetiva. Também precisa ser justa, isenta, cordial, consciente e confidencial. Os periódicos precisam deixar claro para os revisores o que esperam deles, que, por sua vez, devem ter atitudes construtivas e nunca criticar pessoalmente o autor”, elencou.
Preprints – Abel Packer, da SciELO, apresentou “Uso de Preprints na publicação científica”. Na publicação acadêmica, um preprint é uma versão de um manuscrito antes da avaliação por pares, os quais certificam ou não sua publicação formal em um periódico. O preprint é depositado pelo autor correspondente em um servidor de preprints, geralmente temático, seguindo procedimentos públicos. Para Packer, os autores que produzem um preprint estão se expondo à leitura pública e, por isso, devem ter atenção redobrada à qualidade do seu manuscrito. “Resultados incoerentes já podem ser identificados no preprint, pesquisas inovativas podem ser aprovadas e não impede que o trabalho seja publicado por um periódico”, argumentou.
Packer anunciou que a Scielo pretende colocar em operação seu servidor de preprint a partir de julho de 2018. “O preprint viabiliza o acesso aberto aos principais resultados. Representa inovação na produção científica, aumenta o controle de qualidade e a velocidade da publicação”, continuou o palestrante.
Paralelamente às palestras, foi realizado o Minicurso ProCPC – Ética na publicação – Parte I, coordenado por Sigmar M. Rode, da Unesp; ABEC e Edson Watanabe, da UFRJ.
Leandro Rocha (4toques comunicação)
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