Cada região do país tem suas peculiaridades culturais e linguísticas e alguns dos estados brasileiros possuem palavras específicas para determinados termos. Para dar conta desses e de outros fenômenos linguísticos, foi criado, em 1994, o Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), estudo científico detalhado com os registros dos falares de nosso país, cujo objetivo primeiro é mostrar as mais diversas manifestações linguísticas em diferentes níveis. O ALiB envolve linguistas das mais diferentes universidades brasileiras.
Diante deste cenário, as pesquisadoras Vanderci Aguilera, da Universidade Estadual de Londrina, e Helen da Silva, da Universidade Estadual do Paraná, elaboraram o artigo “Não chovem mais flores no Paraná, em Minas Gerais e em São Paulo: um tabu linguístico em extinção”, publicado pela Revista da Abralin – Associação Brasileira de Linguística – (v. 16, n. 03) – https://goo.gl/T42UjQ. A publicação analisa a presença ou ausência de eufemismos para o termo “chuva de granizo” em atlas linguísticos desenvolvidos no Paraná e em Minas Gerais e compara com as ocorrências do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), nos três estados: Paraná, São Paulo e Minas Gerais.
O estudo mostra como era comum o uso de eufemismos, figura de linguagem utilizada para suavizar um termo, para “chuva de granizo”. A expressão chuva de flor, por exemplo, era uma das maneiras usadas para designar o fenômeno no estado do Paraná e em Minas Gerais, principalmente em áreas rurais. Com efeito, dava-se a impressão de que o impacto dessa suavização seria menor nos falantes. No entanto, segundo o estudo de Aguilera & Silva, este tipo de figura de linguagem caiu em desuso com o passar dos anos, mostrando, por um lado, a dinamicidade de nossa língua e, por outro, a necessidade de se debruçar sobre o funcionamento linguístico, discursivo da língua portuguesa.
Aguilera e Silva concluem que “as mudanças sociais, a urbanização, o acesso aos meios de comunicação e à escolaridade, dentre outros fatores, levam os indivíduos a manter outros tipos de relação com os fenômenos da natureza, isto é, no caso em análise, a não temer a chuva de granizo, dispensando a necessidade de suavizar seu significante”. Ou seja, o termo “chuva de flor”, antes implicado com o intuito de tornar a “chuva de granizo” menos desastrosa de um mirante pragmático, passou a ser colocado em apenas poucas cidades paranaenses e mineiras.
O artigo completo e outros que discutem cientificamente a linguagem estão disponíveis, na íntegra, em: http://revistas.ufpr.br/abralin/article/view/52394
Tadeu Nunes (4toques comunicação)
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