Autoria: Rosa Emilia Moraes, jornalista de ciência em Linceu Editorial
O Brasil é referência mundial em transplante de órgãos. O sistema é público e de acesso universal através do SUS – Sistema Único de Saúde, que abrange, além do procedimento cirúrgico, os exames e acompanhamento pré e pós-operatórios, incluindo o fornecimento gratuito da medicação imunossupressora. Mas a disponibilidade de órgãos ainda é insuficiente para suprir a longa fila de pacientes que aguardam por um transplante. Essa escassez pode não ocorrer pela falta de potenciais doadores, mas pelos entraves que dificultam a efetivação da doação.
A legislação brasileira sobre doação de órgãos dispõe que o consentimento cabe ao cônjuge ou familiar maior de 18 anos e com parentesco de até segundo grau com o potencial doador. Porém, diversos estudos como o de Dalbem e Caregnato (2010) indicam que há um alto índice de recusa das famílias. Entre os principais motivos estão o desconhecimento da vontade do potencial doador e dúvidas práticas, como quais os órgãos que poderão ser retirados e como ficará o aspecto do corpo do doador após a doação. Há também o receio da comercialização dos órgãos, questões religiosas e preocupação com o tempo de liberação do corpo.
Nesse cenário, fica evidente o papel essencial dos profissionais de enfermagem, tanto na identificação clínica e manejo do potencial doador, aproveitando a janela temporal viável para o transplante, quanto no amparo e esclarecimento das famílias sobre os aspectos técnicos do processo de doação de órgãos. Uma equipe capacitada e apta a fornecer as informações necessárias sobre todas as etapas tem grande potencial para influenciar uma decisão positiva sobre a doação, tranquilizando os familiares e conscientizando-os para a importância daquele gesto, já que um único doador pode salvar a vida de vários candidatos compatíveis. A perda da chance de realização de um transplante, seja pela não efetivação da doação ou pela demora no protocolo, gera consequências negativas para toda a sociedade, como observado por Marinho, Cardoso e Almeida (2010).
Com foco nesse protagonismo cabível à enfermagem em uma etapa essencial para todo o sistema de transplantes, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) avaliaram o conhecimento desses profissionais no assunto. Através de um questionário com questões descritivas e de múltipla escolha, relativas ao diagnóstico de morte encefálica e processo de doação de órgãos, o estudo analisou as respostas de 137 técnicos de enfermagem em atuação na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital em Porto Alegre (RS). Os resultados foram apresentados em artigo original publicado no Brazilian Journal of Transplantation (v.26), periódico oficial da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).
Confira o estudo na íntegra em https://doi.org/10.53855/bjt.v26i1.486