A doação renal cruzada é uma estratégia promissora para aumentar o acesso ao transplante renal, especialmente para pacientes com incompatibilidade HLA ou AB0. O programa SAT tem sido bem-sucedido em Portugal, tendo permitido o transplante de vários pares incompatíveis.
O transplante renal emerge como a principal abordagem no tratamento da insuficiência renal terminal, contudo, a escassez global de órgãos persiste como um desafio significativo. Mesmo a opção de transplante com doador vivo enfrenta obstáculos, como incompatibilidade HLA ou AB0.
Uma solução para este problema é a doação renal cruzada, um conceito pioneiramente descrito em 1986 (Rapaport, 1986) e realizado pela primeira vez em 1991, na Coreia do Sul. Este procedimento ocorre quando dois pares de doador/receptor são compatíveis entre si, mas não com os seus próprios receptores. Nesses casos, os dois pares são transplantados simultaneamente.
Desde 2017, Portugal integra o programa internacional cruzado South Alliance for Transplants (SAT), composto por dez hospitais espanhóis, três hospitais italianos e um hospital português. Ocorrendo a cada 4 meses, o programa seleciona exclusivamente pares que são incompatíveis. O transporte de órgãos é realizado em parceria com a Força Aérea Portuguesa.
O artigo “Doação renal cruzada internacional – A experiência de um único Centro”, publicado no Brazilian Journal of Transplantation (vol. 26), apresenta os resultados positivos de três cruzamentos internacionais ocorridos entre 2020 e 2021, em colaboração com hospitais espanhóis.
No primeiro transplante, em março de 2020, durante o início da pandemia de COVID-19, um paciente português, incompatível AB0 com um doador nacional, encontrou compatibilidade com um doador espanhol. Os outros dois transplantes, realizados em dezembro de 2021, seguiram a mesma dinâmica, demonstrando a eficácia do programa em superar barreiras nacionais.
“Nossa experiência e a de outros locais mostram que programas como estes oferecem inúmeros benefícios, tais como o alargamento do grupo de doadores disponíveis, a melhoria da compatibilidade entre doadores e receptores e a prevenção dos custos e riscos associados às terapias de dessensibilização para transplantes com incompatibilidade ABO ou HLA”, afirmam os autores.
No final do estudo, os autores ainda ressaltam que a expansão de programas semelhantes pode aumentar o número de transplantes realizados e reduzir os tempos de espera, desde que haja um apoio contínuo e um esforço significativo na conscientização e educação sobre esses programas.
Referência
Rapaport, F.T. The case for a living emotionally related international kidney donor exchange registry. Transplant Proc. 1986 [cited 2023 Mar 13];18(3):5–9. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11649919/
Para ler o artigo, acesse:
Francisco JT, Carvalho R, Freitas J, Coimbra MT, Vilela S, Almeida M, Tafulo S, Pereira RC, Bolotinha C, Ivo M, Sampaio S, Ribeiro C, Silvano JL, Malheiro J, Pedroso S, Dias L, Martins LS. Doação renal cruzada internacional – A experiência de um único Centro. BJT. 2023,26 (01):e3423. https://doi.org/10.53855/bjt.v26i1.531_PORT
Por Simone Bacilieri